Especialistas em diversas áreas da economia reuniram-se no último dia 29 de junho para o encontro semestral do Grupo de Conjuntura Econômica do Paraná, que congrega representantes de organizações da economia do Paraná, incluindo Dieese, Faep, Fecomércio, Fiep, Ocepar, Secretaria de Agricultura, UFPR e o Banco Central, este último como observador. O objetivo é a troca de informações e discussões sobre a economia paranaense. Trata-se de um alinhamento dos entendimentos que cada um dos participantes utiliza em sua atividade institucional. As discussões são estritamente técnicas.
Na reunião do dia 29 de junho, boa parte das explanações foi dedicada às repercussões da recente greve dos caminhoneiros. A análise é de que o impacto maior ainda será sentido, na economia em geral e no agronegócio, em específico, em função dos atrasos e aumentos nos valores dos fretes. Para se ter uma ideia, o frete responde por 67% do custo de exportação da soja, desde a saída da região produtora até chegar ao porto, o que significa que qualquer alteração dos valores praticados impacta diretamente no valor pago ao produtor rural, comprometendo sua renda e sua capacidade de investimento na atividade. Da mesma forma, o aumento do frete tem um efeito dominó sobre várias atividades econômicas.
No bloco de Macroeconomia, foram abordados Economia Internacional, com o professor Fábio Scatolin, da UFPR; Macroeconomia Brasileira, com o professor Eugênio Stefanelo, da UFPR, Conjuntura Econômica Paranaense, com Guilherme Amorim, do Ipardes, e Indicadores de Emprego no Brasil e no Paraná, com Sandro Silva, do Dieese. Também esteve presente Tirso Meireles, Neto, do Banco Central. A segunda parte da reunião foi dedicada ao Paraná. Agricultura e agronegócio foram tema de Jefaey Kleine Albers, da Faep, a situação das indústrias paranaenses foi abordada por Roberto Zurcher, da Fiep e o comércio foi abordado por Rodrigo Rosalem, da Fecomércio.
Segundo as explanações, as avaliações de conjuntura e tendências econômicas elaboradas até o 1.º trimestre de 2018 apresentavam expectativa de crescimento do PIB do Brasil em torno de 2,9% a 3,0%. Para o comércio, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná – Fecomércio – estimava um crescimento entre 3,5% e 5,0% para as vendas de 2018 em comparação à 2017, tendo em vista a relativa estabilidade de fatores macroeconômicos como inflação, taxa de juros e câmbio. Todavia, alguns fatos recentes – internos e externos – estão alterando este cenário, e já fazem os analistas reduzirem suas previsões de crescimento do PIB para algo em torno de 1,5%. Internamente pode-se destacar novamente a greve dos caminhoneiros que, além dos seus efeitos no faturamento de todos os setores da economia, geraram aumento dos custos logísticos, em especial pela implantação da tabela de valores mínimos do frete, assunto ainda em debate pelo governo. Fatores externos diversos – como o aumento da taxa de juros americana, as sobretaxas à importação de produtos siderúrgicos e a possibilidade de uma “guerra fiscal” entre EUA e China – fizeram todas as moedas se desvalorizarem frente ao dólar, aumentando o custo das importações de insumos pelo Brasil, o que poderá trazer um aumento da inflação. Alguns efeitos desse cenário não serão imediatos, mas poderão trazer dificuldades para a economia brasileira. Importantíssimo, todavia, apontou o Rodrigo Rosalem, da Fecomércio, é que o país mantenha o controle da inflação, a estabilização dos juros SELIC, e a perspectiva positiva de crescimento do PIB neste ano acima do verificado em 2017.
Já as vendas industriais deste abril tiveram comportamento positivo, consignando aumento de 1,11%; terceiro aumento consecutivo, segundo a Fiep. Este desempenho colocou as vendas industriais acumuladas em janeiro a abril 7,82% acima das de janeiro a abril de 2017. Desde 2013 não se verificava aumento nos primeiros quatro meses do ano.
A taxa de desocupação no Paraná é de 9,6% da população ativa, enquanto no Brasil é de 13,1% (dados do primeiro trimestre de 2018 – Fonte IBGE/Dieese). Um número bastante alto. Segundo a análise apresentada por Sandro Silva, do Dieese, dificilmente ocorrerá uma recuperação significativa do mercado de trabalho no curto e médio prazo. “Em um cenário normal, já não seria fácil. Com os possíveis impactos negativos da Reforma Trabalhista, tais como legislação e sindicatos, será ainda mais difícil”, explicou ele. Além disso, o especialista alertou que se não houver uma revisão das metodologias das pesquisas, haverá distorções nos resultados, por exemplo, com inclusão do trabalho intermitente.
Após as explanações, os membros do grupo de estudos discutiram as tendências e consequências das análises apresentadas. Nos próximos dias, serão elaborados relatos das discussões. Cada participante é responsável por escrever de forma resumida a área pela qual é responsável. O documento final é então distribuído para os participantes, para que tenham em mãos o que de principal foi tratado na reunião. O Grupo de Conjuntura Econômica deve se reunir novamente no segundo semestre, em data a ser agendada.
Sobre o Grupo de Conjuntura Econômica do PR
O grupo iniciou os encontros em junho de 2015. “Os especialistas das instituições sempre se encontravam em diversos fóruns de discussão sobre o Paraná, mas percebemos que não havia um grupo especializado na Economia Paranaense. Foi aí que decidimos a começar a nos reunir”, conta o professor Gilson Martins, do Departamento de Economia Rural e Extensão da UFPR. Assim, o grupo surgiu de maneira muito espontânea pelas organizações que dele participam.
(Por Simone Meirelles/Sucom/Agrárias)