Um artigo sobre uso de ivermectina no combate à COVID-19, escrito pelo professor Marcelo Beltrão Molento, do curso de Medicina Veterinária da UFPR, é destaque internacional, sendo o quinto mais lido no mundo no respeitado periódico One Health. Em português, o artigo tem como título “COVID-19 e a corrida para a automedicação e auto dosagem com ivermectina: uma palavra de alerta”.
O objetivo central do texto é abordar que os usos terapêuticos da ivermectina como antiviral, que são bastante amplos, não se estendem contra o Sars-CoV-2, fazendo assim um alerta não apenas sobre a automedicação, mas também sobre auto-dose. O professor explica que as pessoas estão não apenas tomando um medicamento sem função terapêutica comprovada, mas também decidindo qual dose tomar por conta própria. “Se para sarna e parasitas, tomam uma capsula em dois ou três dias, para COVID-19, seria uma caixa inteira, por exemplo, seis comprimidos em dois dias. E isso sem consultar um médico”, observa.
Nesse mesmo contexto, o professor analisa que o chamado Kit-Covid começou com algumas pessoas tentando fazer o melhor para encontrar tratamentos alternativos para a doença. Começou com a hidroxicloroquina, azitromicina e logo veio a noticia de que a ivermectina seria altamente eficaz. Nesta panaceia curativa foi adicionada vitamina D, vitamina E e recentemente alguns corticosteroides. A recomendação popular é que as pessoas tomem este coquetel enquanto ainda estão saudáveis, tentando prevenir e blindar a doença. Entretanto, um dos riscos é que esses corticosteroides deprimem muito o sistema imune. “Quem tem diagnóstico positivo para COVID-19 já está com sistema imune deprimido. Se você antes tomou algo que prejudicou o sistema imune, a resposta dos tratamentos hospitalares pode ser inútil ou mesmo até pior, retardando o retorno clínico do paciente”, avalia.
O sucesso do artigo, baixado e citado dezenas de vezes em outros artigos internacionais desde a publicação em abril de 2020, pode estar no fato de que pesquisadores que estão na América do Norte, Europa, Austrália, têm poucos dados da América Latina. Assim, o artigo ganhou relevância por mostrar o que está acontecendo por aqui. Uma das citações é de março de 2021, no JAMA (Journal of the American Medical Association), que reflete sobre atitudes e medicações suplementares, provando que a ivermectina não apresentou efeito quando usada em hospitais.
Segundo Molento, estudos mais embasados sobre ivermectina concluíram que o uso não aumenta a chance de sobrevida de pacientes com COVID-19 e seu uso em excesso pode comprometer a saúde humana, causando graves lesões no fígado e rins dos pacientes. “Tenho um outro artigo que foi aprovado recentemente e será publicado até o final de abril de 2021, aonde abordo o alto uso da droga, pois consumimos 43 milhões de caixas de ivermectina em 2020 e a intoxicação medicamentosa, como hepatite relacionada ao excesso uso de medicamentos, além de complicações renais. O comprometimento de outros órgãos já é conhecido, como sistema nervoso central, aparelho digestivo, entre outros. Uma outra grande observação que faço é a possível alteração da flora intestinal de populações de risco e a grave poluição ambiental pela eliminação da molécula no ambiente pelas fezes em altíssimas doses”, adianta ele.
Molento complementa: “ Alerto que a ivermectina foi aprovada para ser usada na dose terapêutica, porém o desespero, o medo, a falta de medicamentos específicos e o atraso na vacinação, estão empurrando a nossa população para buscar alternativas não seguras neste momento tão difícil. Meu grande objetivo é alertar sobre estes graves riscos e cuidar para que evitemos os acidentes.”
O link para artigo original no site One Health é: https://www.journals.elsevier.com/one-health/most-downloaded-articles?fbclid=IwAR3FJVL6xOVSa2VYwqaFT9DnSGtaH3GTrrL5H8QPnrOGBvdPL1eptNAh9Jc .
(Por Simone Meirelles/Assessoria de Comunicação/Em 09/04/2021)